quarta-feira, 27 de julho de 2016

Não poderia deixar de falar dela...



Gente boa de verdade

Pequena ela era, mas de uma fortaleza sem tamanho.
Quando seu último filho nascia, tivera sete, seu marido falecia.
A jovem mulher, de sangue espanhol, do trabalho não fugiu e seus filhos ela pôs-se a criar.
Não se preocupava muito em guardar, no dia que seu salário recebia era fartura com certeza!
Seus filhos homens e mulheres se tornaram.
Ela então, na casa agora vazia de filhos, decidiu que era hora de um novo amor viver e viveu!
Lembro-me dela, perfumada, bem arrumadinha, com presentes no dia de aniversário de seus netos. Nunca ela faltava. E ele, seu companheiro, ali do seu lado, até o fim ficou!
Tendo festa ou não, lá vinha ela, da data não se esquecia nunca! E por nós, crianças, sempre aguardada, porque com certeza tinha presentes e balas. E naquele tempo estes agrados eram raros...
Almoço de domingo, férias, lá em sua casa era com certeza lugar certo de encontros da família.
Não tinha dia e nem hora, mesa com guloseimas era coisa certa.
Mas um dia, o que era doce se acabou.
Ela se foi, eu chorei como criança, que sabia do que se privava Aprendi então que a vida é assim, cheia de momentos únicos, lembranças e saudades...   
Minha avó Ana, porém, me ensinou que a vida tem que ser vivida intensamente, se possível, rodeada de pessoas boas de verdade, como ela!

Joyce Pianchão

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Mais um dia de caminhada!



A intrusa


Céu azul, muito azul, azul limpo, convidativo.
Azul presente de segunda-feira.
Azul acompanhado de sol.
Sol manso, acordando aos poucos, espreguiçando feito gente.
Até a lua se esqueceu de se recolher, e no céu ficou a me espiar.
Eu vi cachorros, muitos cachorros, acompanhando um homem igualmente solitário no caminho, no mesmo caminho, no meu caminho. Ou serei eu quem estava no caminho dele?
Cachorros e homem se completando. Eu sem cachorro, acompanhada por gente que teimava na minha mente permanecer.
Será que eles também, cachorros e homem, viram o azul do céu, o sol manso e a lua ainda acordada?
Eu caminhava e via a lua ali me acompanhando. Ora se escondia atrás de uma árvore, ora atrás da passarela de pedestres. Onde está você? Atrás da igreja que avisto ao longe? Passa o trem ao lado, ao lado do meu caminho, me perco no seu passar lento. Cadê a lua? Foi com o trem? Eu criança brincando de esconde-esconde... Ah, ali está ela, continua a me acompanhar.
Eu dividindo espaço com gente, bicho, alegria e pensamentos.
Ás vezes eu me interrompo com um olhar diferente, observador.
Um cumprimento, um sorriso, um “eu já te vi não sei onde”.
Um elogio que me faz endireitar a postura, olhar pra frente e seguir o caminho com confiança de quem pode, ou acha que pode, espera poder...
Conversa sem compromisso com o moço que vende água. Parada obrigatória.
O caminho continua à frente, passos e passos e pensamentos.
O fim do caminho, não é o fim da vida, nem o fim do trilhar, pausa até amanhã. Eu acho que assim será. Será?
Feliz regresso para casa, corpo leve, a bagagem de pensamentos ficou esquecida pelo caminho de céu azul, de sol despertando, de lua intrusa. Intrusa?
Intrusa eu, que entrei neste cenário e quis, sem ser convidada, fazer parte desta harmonia do amanhecer.
Que o que deixei lá não seja empecilho para que o dia se complete harmonioso. E que eu seja também pura harmonia hoje.
Mais um dia de caminhada!

Joyce Pianchão

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Simples assim...



Noite

Silêncio...
Escuro céu
Janelas iluminadas
São estrelas a anunciar o término de mais um dia.
Ao longe um latido de um cão solitário
E passos cansados retornam para casa.
Cheirinho de comida
Som do jornal na televisão e dos poucos carros na rua.
 Corpo cansado
 Olhos tranquilos
Pensamentos poucos...
Na mesa o alimento
Na cama o repouso.
No pensamento a lembrança do dia
Nada a pedir e muito a agradecer.
Boa noite!

Joyce Pianchão

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Ao amigo, amigo mesmo!



Amigo,

É coisa rara, não se têm muitos.
Vejo hoje pessoas que dizem ter muitos e muitos. Não posso acreditar nisto.
Amigo é aquele que muitas vezes lhe conhece mais até que você mesmo.
É aquele que sabe das suas fragilidades. Que sabe respeitar o seu silêncio, que sabe quando é preciso somente escutar, que sabe quando precisa ficar ou se afastar.
Amigo não é parente, não se sente obrigado ao seu lado ficar. Não precisa estar em todos os lugares que você frequenta.
Amigo tem liberdade de ir embora, passar um tempão sem dar notícia, mas quando anuncia que está voltando é aquela festa!
Amigo é alguém tão especial que não tem como se ter muitos, porque ele é único.
Você pode ter muitos conhecidos, muitos colegas de trabalho, muitos companheiros de farra...
Amigo, amigo de verdade, é aquele, especial!
O amor pode se acabar, a família pode se afastar, o filho se despedir, os companheiros e colegas outros rumos tomarem...
O amigo fica se for amigo de verdade.
Um dia eu disse: Se eu fosse você já teria desistido de mim.
Não desistiu!

Joyce Pianchão

segunda-feira, 11 de julho de 2016

ABRAÇO DEMORADO



Eu vi

O sol de inverno carinhosamente amanhecendo o dia e me convidando a caminhar.
Pessoas agasalhadas apressadas para o trabalho seguiam.
Estudantes mal despertos para escola se dirigiam.
Pessoas de todas as idades, com roupas coloridas, correndo ou caminhando cada uma no ritmo dos seus pensamentos.
Eu vi gente no alto, na passarela de acesso ao metrô, indo e vindo, bem organizada, fila da esquerda, fila da direita, em um compasso quase ensaiado.
Tudo que eu via já era bastante conhecido da rotina dos meus olhos, até que então, na passarela, da fila da direita uma mulher, da fila da esquerda um homem, que se encontram num abraço, num demorado abraço.
As filas continuavam indo e vindo, mas para aquele abraço demorado, duas pessoas se encontraram desorganizando a rotina dos seus dias...

Joyce Pianchão