terça-feira, 22 de novembro de 2016

SILÊNCIO

Diante de algo que me entristece, que me faz só ou quando não me faço voz ouvida, eu escolho o silêncio.
Dou o meu silêncio aos outros. Não por acreditar que com isto estou penalizando-os.Não! Eu me retiro de cena por necessidade minha.Sou eu que me removo, como deve ser removida uma pedra no caminho para que ninguém interrompa o seu caminhar.  
E então eu sou pedra, sou silêncio.
Porém, eu sou eu,penso, sinto e aguardo.
Faço releitura minuciosa de mim mesma, do que me rodeia.
Deixo que os outros passem com seus barulhos,os meus,por hora,estão guardados.
Não é um fim,é uma trégua que se faz necessária.
O silêncio é uma estratégia de sobrevivência.
No silêncio eu me acho e percebo então que não sou pedra no caminho.

Joyce Pianchão
 

domingo, 13 de novembro de 2016

CHOVE


Chove no telhado, nas plantas, no chão.
Chove em mim...

Eu escuto o silêncio que a chuva faz lá fora.
Silêncio também em mim...

Do telhado escorre a  sujeira,da planta surge o verde mais vivo, o chão seco mata a sua sede. O rio se agita com a água que chega.
 Tem gente que não dorme temendo que a chuva os leve.
O medo também se faz em mim...
 
Eu recebo a chuva com calma, com tanta calma que ela se entristece em mim.
Não vejo o sol, vejo o escuro, a incerteza.
Chove hoje e amanhã?

Amanhã eu quero o sol me acordando de mansinho, como a alegria que despertará em mim. 

E se a chuva continuar?
Eu acordarei viva como tudo o mais que necessita dela.
 

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

HOJE É DIA DOS VIVOS




O dia amanheceu frio, céu nublado e eu tranquila, leve, reflexiva.
Pensei nela, na morte.
 Pensei naqueles que ela me levou.
Saudade veio terna.
Pensei que um dia ela virá para mim, eu serena.
Hoje é Dia de Finados, dia dos vivos pensarem na lista de amigos, conhecidos, familiares, que viveram, cumpriram cada um o seu ciclo de vida e foram com ela, com a morte.
Mas, os que se foram ficam na gente, ficam no ar, nas coisas, nos lugares, nas fotos, nos rostos dos filhos, dos netos, dos amigos.
Ficam no que falaram, demonstraram, construíram. Ficam naquilo que gostavam, no que acreditavam. Ficam por onde passaram. Ficam na mente, no coração, na lágrima, no sorriso, no gesto, nos objetos.
 A vida continua com a presença, de alguma forma, dos que se foram, pois a partida nunca é completa. Parece até que é um “até qualquer hora, até qualquer dia”.
Hoje é dia de pensar em o que estamos fazendo, o que vamos deixar, em que lembrança estaremos, em que saudade, em que alegria, em que vida, em que palavra...
Hoje é nosso dia, dia dos vivos serem vida eterna, para os que vão ficar depois de nós.

Joyce Pianchão


terça-feira, 1 de novembro de 2016

DIFÍCIL E BELO





No último dia de outubro do ano corrente, eu terminei mais uma leitura: A cidade sitiada, de Clarice Lispector.
 Depois que eu li a biografia de Clarice, escrita por Benjamin Moser eu me propus a ler todos os romances desta autora, na ordem que ela os produziu. Os contos eu já li: Todos os contos, organizados por Benjamin Moser.
Sendo assim terminei a leitura do terceiro romance da autora: Relata o crescimento de uma cidade e de uma mulher, ambas sitiadas, ambas alçando voos mais altos. A cidade se desenvolve e se moderniza, a mulher vive o que a cidade lhe oferece, até que um dia Lucrécia, a mulher, deixa a cidade, arruma a trouxa e escapa.
Leitura para quem gosta de se aprofundar no mais puro eu e ao persistir neste caminho encontrar um jeito único, da autora, de perceber os sentimentos mais escondidos nos seres, até nas coisas...
 Surpreendentemente uma viagem difícil e bela!

Joyce Pianchão