terça-feira, 27 de setembro de 2016

CORAÇÃO QUE NO MEU PEITO BATE




Hoje levei meu coração ao médico.
Fiquei na dúvida se ia ou não. Com coração não se brinca. Ou brinca?
Talvez seja este o problema, brincamos pouco nos últimos tempos.
 Afinal ficamos até sem jeito, diante das notícias daqui e dali, nada boas!
Então temos ficado mais tristes e alarmados, do que leves e risonhos como gostamos.
Verdade seja dita, ele sempre tão quietinho que eu até andava esquecida dele.
Mas numa noite destas, ele marcou presença e no meu peito se agitou, bateu apressado.
E o médico depois de ficar pertinho do meu peito, de escutar com atenção o que meu coração tinha para dizer, me tranquilizou.  Eu não tinha com que me preocupar. O coração no compasso estava.
Mesmo? Que coração danado de bom!
Cheguei a pensar que ele já estava cansado de me acompanhar.
Então eu me enganei?
O tempo ainda se faz presente em mim? Bate por mim o meu coração?
Sabe de uma coisa? Vou acreditar neste médico, gostei dele!

Joyce Pianchão

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

COMPLETAMENTE EU...



Eu saí para comprar um livro, não, eu saí para não ver o dia em casa.
Domingo é um dia complicado para mim.
Já foi descanso, hoje é vontade de não ficar em casa, de sair por aí.
Domingo de tarde, coloquei roupa confortável e sai andando até a um shopping, entrei comprei um tênis, um tênis casual, branco, para as caminhadas casuais de domingo, de outros dias também, dos bons momentos que estão por vir, assim espero,
Entrei em uma livraria, meu mundo preferido e comprei mais um livro.
O vendedor veio e não encontrou o título pedido, eu encontrei o que queria na prateleira rente ao chão. Eu e o livro nos encontramos, ele estava ali a minha espera, levei-o para casa e lhe apresentei aos outros a minha espera na cabeceira da cama.
Eu me sentei num café e lanchei tranquila, sem pressa, acho que nem pensei, se pensei não percebi.
Hora de retornar para casa, fim de tarde, clara, fresca, silenciosa, eu  passos leves, serena, confiante.
Cheguei à minha casa depois de um passeio comigo mesma, tomei um banho, fiz chá e fui ler o meu livro, não o que comprei, o livro que ao fim está chegando, começamos a nossa despedida.
A chuva caiu forte, o vento varria o que via pela frente, levava também o que não via, mas eu sabia que ia.
Dormi com o barulho dos pingos de chuva que batiam na janela, que caiam no chão, que se faziam música, que abrandavam o coração, a mente, todo o corpo, completamente eu, adormeci.

Joyce Pianchão

sábado, 24 de setembro de 2016

ACONTECEU COMIGO



Acordei com 61

Isto mesmo! Acordei com sessenta e um anos de idade, de vida vivida.
Vida silêncio, vida sonho, vida mudança, vida decepção, vida luta, recompensa, vida barulho, decisão, continuação, resignação, perdas, vida retomada, livre, saúde, vida disposição, espera, realização, vida hoje, vida vivida, vida viva!
A cada palavra escrita foi vida, é vida, com idas e vindas, perdas e ganhos.
Sessenta e um anos de passos, recuos e avanços. No caminho eu estou agora, estarei até quando?  Não sei...
Hoje eu sou presente e posso olhar para traz sem medo, sem vontade de voltar, passei, vi, senti, vivi como pude, como deu, como tinha que ser e foi.
Deixei no caminho algumas coisas, pessoas, sentimentos. No mesmo caminho algumas pessoas ainda estão, também encontrei outras coisas, outras pessoas, outros sentimentos. Eu também me torno outra nem sempre por querer, outras vezes para sobreviver.
No caminho agora olho para mim e me vejo tranquila e até se me olhar mais profundamente posso me ver feliz.
Tenho pessoas que me querem por perto, que me sentem, que me notam.
Eu me entendo, compreendo o que em mim se passa, me cuido, vivo simplesmente.
 Isto me basta, me é suficiente, não pensar muito, planejar menos, viver mais o dia, o hoje.
Para quem não sabe este é o benefício que a maturidade traz.

Joyce Pianchão

terça-feira, 20 de setembro de 2016

AQUI ESTOU!

São raros os dias que isto acontece. Adoro saudar o amanhecer de pé.
 Hoje eu vi o sol refletindo na minha janela, eu o observava da minha cama. A cabeça deu sinal que nem tudo eu suporto e então veio a enxaqueca. 
Passados algumas horas a mais na cama, eu me levantei e deixei que a água do banho levasse o que de mal me fazia.
Se estou aqui agora é porque já estou em recuperação. Isto é muito bom!
Sou sensível ao barulho excessivo de coisas e pessoas.
  Eu tento não assimilar o que não me faz bem, tento ser forte, tento me controlar, me adaptar, ser cordial e amável com tudo e todos, tento ficar imune ao que não me agrada. Eu tento não ser desagradável quando me vejo onde não deveria estar.
Eu sei que acontece com muitas outras pessoas: Aqui não é o meu lugar, eu não faço parte deste grupo. 
Que não me entendam mal, mas cada um pertence ao seu grupo, grupo social, religioso, político...Somos diferentes quando procuramos o nosso lugar e iguais no direito de pertencer. Todos nós pertencemos e temos o nosso lugar no mundo. A experiência, a vivência e o conhecimento podem fazer com que mudemos de grupo, direito de pertencimento e escolha de cada um.
Já pensou nisto?
 De repente por um descuido,caio de paraquedas em local desconhecido. Acontece!
Tudo acontece quando estou desprevenida, de coração aberto e aí entram sem bater e querem ficar.
Preciso ser forte, forte o suficiente para me restabelecer, para ver de novo o começo de um dia de pé e sai por aí e viver. 
Estamos aqui para viver bem. 
Se eu acordei e viva estou, tenho então que saborear o presente, que é o que tenho de mais certo, o hoje.
 
Bom dia, vida! Aqui estou!

Joyce Pianchão

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Uma pergunta no caminho



De que lado você está?

Uma pergunta no caminho eu encontrei hoje. Estava escrita num muro e me chamou a atenção. Pensei em como eu poderia respondê-la e me vieram, ali mesmo na caminhada, as respostas:
Estou do meu lado.
Estou do lado esquerdo, do lado esquerdo do coração, sou emoção.
Estou do lado esquerdo da política, sou povo.
Estou do lado esquerdo do comodismo, quando eu me acomodo, eu sinto que é hora de movimento e eu me endireito.
Estou do lado direito da verdade, da honestidade, da sinceridade. Meu pai me fez assim.
Estou do lado da certeza. Que certeza? Da minha...
E você que lado está?
Não desvie, não atravesse a rua, responda.
Você não viu a pergunta escrita no muro? Eu leio para você.
Você não quer responder?
Então você está do lado direito.
 Direito é de todos...

Joyce Pianchão

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Hoje no silêncio da tarde




Hoje, no final da tarde, fazia silêncio e eu me despedi de mais uma leitura:

Todos os contos/Clarice Lispector; organização de Benjamim Moser.

E por falar de silêncio, deixo aqui um trecho de um conto de Clarice:



Silêncio



(...) Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da terra a luz alta. Então ele, o silêncio aparece. O coração bate ao reconhecê-lo. Pode-se pensar no dia que passou (...). 


Joyce Pianchão