segunda-feira, 22 de agosto de 2016

OS OLHOS



Acordaram...
Não foi simplesmente um abrir de olhos.
Eles se abriram como todos os dias ao amanhecer, é fato, mas despertaram de um jeito diferente, estavam diferentes, queriam ser diferentes.
E saíram e foram pelas ruas olhando. Entraram no prédio e sorriram. Sorriram também no elevador, para a secretaria da médica.
Com a médica foi diferente, eles fixaram nela e viram outros olhos que também sorriam e que também queriam ser diferentes, queriam fazer diferente e fizeram...
Tanto que fizeram que os olhos que ali chegaram saíram com brilho, um brilho que não trouxeram, mas saíram com ele e sorriam mais ainda.
Os olhos entraram no táxi e encontraram outros olhos, vividos, experientes, cheios de histórias. Não eram olhos cansados pela idade, não eram. Contou para os olhos atentos que entraram, a sua vida passada, fatos surpreendentes que deixaram os olhos que escutavam abertos e espantados, nem piscavam. Mas então, os olhos que narravam tudo que já haviam visto, contaram também o presente, o jeito novo que encontraram de ver as coisas e as pessoas, a eles próprios. E aconteceu num curto espaço de tempo, troca de confidências. Houve até compartilhamento de dicas culinárias, cuidados físicos, reflexões de vida. Parece que o caminho se alongou ou o tempo parou, alguma camaradagem aconteceu para aqueles dois pares de olhos que conversavam animadamente. Os olhos brilhantes saiam do carro surpresos, agradecidos e revigorados.  Sorriam mais ainda...
Os olhos retornaram a casa e encontraram dois jovens olhos ternos, que perceberam os olhos que chegavam diferentes, brilhantes, agradecidos, revigorados.
Sorriram-se com ternura.
A dona dos olhos que amanheceram diferentes percebeu que tudo depende de como decidimos olhar.

Joyce Pianchão

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