Acordaram...
Não foi simplesmente um abrir de olhos.
Eles se abriram como todos os dias ao amanhecer,
é fato, mas despertaram de um jeito diferente, estavam diferentes, queriam ser
diferentes.
E saíram e foram pelas ruas olhando. Entraram
no prédio e sorriram. Sorriram também no elevador, para a secretaria da médica.
Com a médica foi diferente, eles fixaram nela e
viram outros olhos que também sorriam e que também queriam ser diferentes, queriam
fazer diferente e fizeram...
Tanto que fizeram que os olhos que ali chegaram
saíram com brilho, um brilho que não trouxeram, mas saíram com ele e sorriam
mais ainda.
Os olhos entraram no táxi e encontraram outros
olhos, vividos, experientes, cheios de histórias. Não eram olhos cansados pela
idade, não eram. Contou para os olhos atentos que entraram, a sua vida passada,
fatos surpreendentes que deixaram os olhos que escutavam abertos e espantados,
nem piscavam. Mas então, os olhos que narravam tudo que já haviam visto,
contaram também o presente, o jeito novo que encontraram de ver as coisas e as
pessoas, a eles próprios. E aconteceu num curto espaço de tempo, troca de confidências.
Houve até compartilhamento de dicas culinárias, cuidados físicos, reflexões de
vida. Parece que o caminho se alongou ou o tempo parou, alguma camaradagem aconteceu
para aqueles dois pares de olhos que conversavam animadamente. Os olhos
brilhantes saiam do carro surpresos, agradecidos e revigorados. Sorriam mais ainda...
Os olhos retornaram a casa e encontraram dois
jovens olhos ternos, que perceberam os olhos que chegavam diferentes,
brilhantes, agradecidos, revigorados.
Sorriram-se com ternura.
A dona dos olhos que amanheceram diferentes
percebeu que tudo depende de como decidimos olhar.
Joyce Pianchão
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